quinta-feira, 21 de julho de 2011

Teogonia - parte 12

Agora, neste ponto da história, chega a hora de examinar os trágicos eventos
Daquele que foi conhecido como o mais conhecido desastre celeste deste orbe,
E mais ainda, uma vez que será conhecido pelo ponto de vista do vencido, eles
Que contam como foi a queda do astro celeste, que para sempre a tudo mudou
Separando leste e oeste, partindo o reino e continente em terras de brancas areias.

Exterminando vida e criando uma outra muito mais funesta, o deus fendido, oh,
Desgraçado, queimado e maculado, tende piedade, oh sem-nome-agora-Pousson,
E permite que seja contada vossa história, seus dias de vida em glória e sua terra,
Seu povo, sua honra, sua história e sua glória, antes da queda, e do fado do destino
Que lhe coubera ser houvera, muito pior do que a morte; deixai cantar vossa ode:

Houve antes uma era numa história pouco relembrada, onde havia uma terra sacra,
E também muito fértil, onde seu deus criou seu povo para viver em plena harmonia,
Respeitavam Mikra, a natureza e com ela se tornavam o meio, nem bons nem maus;
Seu comportamento variava, suas tradições cresciam e o povo se dividiu em tribos;

E as tribos separadas criaram divergências entre eles, se diferenciando entre si,
Até que se não mais eram um só, dividindo apenas a sua origem divina comum.
Com a queda, o nome e a lembrança de como eles eram perdeu-se totalmente.
São um povo dividido em crenças, ações e comportamento, ainda que goblins.

Então, um dia houve a Grande Queda, e o Céu desmoronou nas terras deles.
Tudo ardeu e queimou por todo o dia e a noite, partindo todo o firmamento.
O continente fora dividido em dois e nunca mais as coisas seriam como antes.

O próprio deus daquela terra foram embebido nas chamas amaldiçoadas,
Viu toda sua terra e seus filhos perecerem, e mesmo sua carne deformar.
Uma maldição terrível que haviam jogado sobre ele, mas por qual pecado?

O deserto inconsolável e insondável era tudo o que restava até dava a vista.
E a luz odiosa, voltava ao céu toda hora, para queimar novamente os párias.

Como se já não fosse ruim, uma praga surgiu ali, maldição e terrível doença,
Dos que sobreviveram ao queimor, padeceram doentes e logo pereceram.

"O que havia feito para merecer isto, Pospór? Sua guerra não era com Zaur?"

Quem imputa esta frase ao deus maculado, fala de fora de suas terras com certeza.
Embora certos eventos sejam fato comprovado, muitas é indevidamente imputado.
Ele soergueu seu povo, e sensíveis, os fez odiar a luz, dando-lhe hábitos noturnos.
Ele se tornou portador da doença e deus que a propaga; nem sempre ele foi assim;

Seus filhos, os tornou resistente a maldição do deserto e doença terrível que ela era;
A eles também ensinou os caminhos de poder, onde podiam trilhar nele sem medo.
Também mandou seus filhos se espalhar pelo mundo e punir os defensores da luz,
Tomar deles tudo, como um dia deles, tudo fora tomado e levado ao nada original.

E curiosamente, foram justamente aqueles que mais se afastaram de suas origens,
Que continuaram seguindo estes ensinamentos, os iconoclastas e vândalos orcs.
Seguem num furor destrutivo, avançando como um doença que se tornaram.

Os demais variaram muito em seu comportamento, de respeito a repúdio ao seu deus.
Os goblins, pequenos e astutos, migraram para as montanhas disputando-as com anões.
Os hobgoblins, se organizaram, abandonando Pousson e favor de Kursak, a guerra.
Os bugbears, foram patronados pelos hobgoblins, para evitar cair na barbárie orc.

E embora estes sejam os principais inimigos comumente citados, por trazer a praga,
Pela destruição, roubo, desejo de conquista ou invasão e demais crimes relacionados,
Não podem ser creditado culpa por tudo que existe, nem mesmo o seu deus Pousson,
Pois há muito mais no deserto maldito em histórias, lendas e outras versões dos eventos.

quinta-feira, 30 de junho de 2011

Teogonia - parte 11

Após certa calmaria, uma onda migratória e de exploração trouxe à tona nova sorte de eventos.
Insuflou os deuses o desejo por alianças, mais territórios e conquistas, progresso, assim diziam.
se realmente estes intentos foram alcançados é algo discutível, mas novos rumos eles trouxeram.

E eis que veio do outro lado do deserto uma deusa estrangeira e foi parar na corte de Dankir.
Não apenas sua língua era estranha, mas seus modos e costumes, causando tensão e agonia.
Com extensa maquiagem e roupas esquisitas, tal qual seus serviçais com belas túnicas sedosas.

Seu nome era tão complicado quanto seu idioma; Tao rizi e en-ne era ouvido dela e seus servos.
E o povo acabou por nomear a exótica divindade de Riziene, Rishiene e por fim era de Hishiene.
Longe da verdade, Liyi Dashi era uma deusa de etiqueta e formalidade, e tais coisas suas frases.

Além de vir para gerar bom relacionamento entre ocidente e oriente, a deusa trazia notícias
Os deuses orientais também haviam passado por uma terrível guerra, vencendo a alto custo.
Além disso, vinha como noiva prometida de um deus do ocidente para selar aliança mútua.

O deus da Justiça era o candidato ideal, o que causou enorme comoção no panteão celeste,
Afinal, todos bem sabiam que Dankir era casado e já tinha três filhos, um absurdo, parecia.
Neeria não podia aceitar e achava absurdo tal documento da corte estrangeira que isso dizia.


Mas Hishiene portava-se inflexível, irredutível, informando que seguiria sua ordem imperial.
Dankir, então, para seguir seu domínio da Justiça pediu aconselhamento de seus três filhos,
E no final acabou fazendo o impensável: criou a Lei do Divórcio e baniu Neeria para Sygnus.

A deusa partiu cheia de pesar e fúria, não entendendo motivo para tal comportamento.
Levou consigo além de suas coisas, muitos dos segredos torpes dos deuses celestes.
Surpreendentemente, alguns servos de Hishiene, abandonaram sua mestra seguiram-na.

Estes, achavam injusto o comportamento dos deuses, especialmente Dankir o que clama,
E sabendo que teriam desconfiança e receio, fizeram acampamento perto da cidade dela,
E se comprometeram a ser a primeira linha de defesa de seu povo, para provar serem leais.

Essa amargura, dizem resultou em terríveis experimentos ou descobertas da deusa desamparada,
Que no final de tudo, resultaria na existência de uma ameaça que levaria ao fim de sua existência,
E poderia levar a cabo toda a criação em conjunto; tudo porque ficara sozinha e abandonada...

Este seria um dos pontos que resultariam no fim da Era das Lendas, mas isso é uma outra história...

domingo, 22 de maio de 2011

Teogonia - parte 10

Outra contenda estava por iniciar-se causada por um equívoco;
O que outrora fora uma comemoração, agora era plena discórdia.
Mikra, a deusa da natureza protagonizava agora um evento trágico.
Seu nome seria dali por diante maculado do que antes era só alegria.

A natureza e deusa da vida, ligava o nascimento e floração ao ciclo;
Suas irmãs celestes e lunares homenageara, dando as fêmeas seu ritmo.
Assim, como as sementes teriam todas um momento certo para procriar.
As as irmãs luas, alternadas no céu, ditariam essa sábia e sagrada medida.

A deusa aqui clamado: 'Que os devotos festejem a benção do sol e filhas!'
'Pois estas quando nasceram, cheias no céu, também foram prova de vida';
'Nesse dia, a Natureza, Mikra, também era salva da Morte que Definha'.

'O Sol fecunda a Terra; todos os demais deles subsistem e guardam louvor'.
'Então, quando uma das irmãs celestes aparecer cheia na noite com sua luz',
'Os devotos da deusa devem a vida conclamar e multiplicar, Mikra ordena.'

Este conclame levou ao que foi instituído nos cultos, ao ritual de Mikra;
Originalmente, a uma celebração da festa da colheita e da semeadura;
Embora houvesse sido incutida a festa da procriação da vida, e famosa:
Conhecida por outros termos como culto a fertilidade, da terra e da carne.

Não sem razão, nas cidades, dos deuses celestes, assim foram chamadas:
O sagrado meretrício, com ironia e sarcasmo, servas da deusa prostituta.
Os quais, tanto a deusa, tal qual servos não se importam com rótulos tais;
Sabendo quão por um fio esteve toda a vida, o escárnio é preço pequeno.

O culto tem seus devotos e diferentes formas de agradecer pela vida;
 E respeito com seus participantes e devotos por seu esforço e garantia,
Que a existência da deusa e mortais jamais será ameaçada novamente.

E a quem zomba ou abusa da deusa diretamente em seu ritual ou votos
Um terrível castigo de humilhação e reflexão ela deixa para os heréticos,
Onde aprenderão no cerne que a Natureza é rígida, mas generosa e sábia.

Que dizer então, do clamor das tribos atacadas pelos bárbaros selvagens?
Das mulheres sequestradas e a força tomadas? Elas gritaram e choraram,
Mas Mikra não estava lá para protegê-las; pior era o que os bárbaros diziam,
Ao afirmar que só estavam seguindo aquilo que sua deusa lhes mandava!

Neste horror noturno sob a luz do luar, as fiéis outras protetoras chamaram:
Luna e Lifh, a lua prateada e a lua rubra, desceram dos céus e as ouviram,
As suplicantes pediram às deusas não vingança nem poder para punir, mas sim
A capacidade para se protegerem; e as deusas gostaram do que elas diziam.

Tornaram estas mortais amazonas, treinadas em combate para deter os facínoras;
E se estes, em nome da natureza, como feras se comportavam, assim sofreriam:
Com a fúria rubra e Lifh e os grilhões de prateados de Luna, os bárbaros cairiam.

Começava deste dia em diante a maldição da licantropia; nela, sofreriam o castigo,
Aqueles homens que se comportavam como animais, seriam feras para sempre;
E as devotas das deusas da amazonas, os controlariam, domados nesses grilhões.

Começava o conflitos que duraria séculos a partir deste dia, amazonas X bárbaros.
Eles acusando-as de terem suas tribos atacadas pelas terríveis mulheres guerreiras;
Elas dizendo que defendem suas terras das invasões de sequestradores de donzelas;
Que castigam com justiça, transformando-os em animais o feras de combate delas.

Os totens também tratam por afronta ao usar o poder que lhes cabe nesta criação
Os animais não nasceram para grilhões, nem para ser deste modo, domesticados;
A raiva irá erigir e um dia, as amazonas iriam se arrepender por temível pecado.
Pois um dia, acaso libertados, não teriam poder demais para serem controlados?

As deusas riem, ignorando os pobres espíritos coletivos dos totens dos animais;
Ouviram falar que eram fugidos do Submundo e que não haviam sido recolhidos
Por pena da deusa dos mortos; e assim não deram ouvidos ao terrível vaticínio.

Já que é o Destino, caprichoso e volúvel, decide dar ouvidos a quem conclama,
Palavras de justiça e castigo para quem os poderes por ele concedidos, abusa,
Criando uma história de salvação de uma salvadora nascida do fruto proibido...

Mas isso é outra história...

domingo, 15 de maio de 2011

Teogonia - parte 9

Outra dupla peculiar passou quase incólume pelas terras da deusa.
Eram eles, marido e mulher, deuses, vindo com o panteão celeste.
Pais dos pequeninos, povo migrante que tem muito a nos contar.

Raça de miúdos sorridentes, os quais dizem que crianças parecem;
Polidez e cortesia são necessários para tratar com estes dois;
E assim, conforme a lenda passa e perpassa, se ouve a toda hora,
Pois, destratar qualquer um deles que seja traz muita má sorte.

E não apenas seria obra do acaso, pois além dos pequeninos,
Serem chamados de povo que anda com a boa sorte, os deuses,
Tem ambos, marido e mulher, os olhos sobre o povo que criou.

Ekron, o espiritualizado, pai dos halfings astrais, guarda consigo,
Um poderoso guardião ou anjo da guarda que se manifesta,
Prontamente para deter os desafortunados que lhe prejudicam;
Assim é o poder psíquico deste deus do mundo do céu acima.

Anise, a de muitos títulos: dedos leves, a dama discreta, esguia;
A senhora irascível, mãe dos halfings, ladinos e senhora da sorte;
Irritá-la é trazer prejuízo, que vem de muitas formas e juízos.

Para o bem estar de todos, felizmente, seja por conta destas lendas,
Ou outro motivo aparente, qualquer que seja, é fato sobre os halflings
Que eles pessoalmente são corteses por natureza e isto os beneficia,
Seja aparência, carisma ou outra feita, ninguém jamais os odeia.

E assim seguem, estes peregrinos, ora sábios, trapaceiros, ladrões,
Profetas, turistas ou errantes. E em suas viagens ouvem muito.
E não a toa, sabem muito, e em muitas histórias e lendas para contar.

quinta-feira, 5 de maio de 2011

Teogonia - parte 8

Haviam entretanto muitos outros contos e desventuras a se contar.
Mais deuses, e suas já esperadas intervenções no reino dos mortais;
Entre elas, chama a atenção a chegada de estranhos de outro mundo.
Buscando um fim ao que consideravam um tormento, eles buscaram,
E enfim, após longa jornada através dos mundos, finalmente vieram.

Estes eram o povo belo vindo de outro mundo, um reino distante,
Aos quais, o homens podem apenas sonhar, o Plano das Fadas,
Dotado de beleza e horror, beleza e tristeza, glamour e sonhar;
E fadas caprichosas, como o dia e a noite, cheias de costumes,
Costumes e regras, cujos corações caóticos não podem ignorar.

Seus nomes e formas são muitos, seu povo incrivelmente variado,
Seus líderes, chamam de elfos, e de corte feérica são chamados.
Sua Chegada foi em algum momento da guerra de Póspor e Zaur.
Trouxeram esperança e conforto aos mortais que lá tanto sonhavam,
E dizem que foi pelos sonhos deles que nosso mundo encontraram.

Seus líderes, tão belos e estranhos, tão estranhos a este mundo,
Fizeram, destes filhos de um clã, com Mikra, a deusa, um acordo:
Protegeriam a beleza deste mundo, a natureza e com ela se uniriam
Desta forma estaria assegurado a quem quisesse, do povo deles,
O direito a este mundo de existir e viver, não apenas ser do sonhar.

Uma grande família compunha estes clãs, aos quais, eram lordes e pais
De muitos seres a quem chamam de fadas, quer sejam elas boas ou más
Diferente são suas regras e interpretação do mundo; por isso foi difícil
Entender como era viver neste mundo de deuses e mortais, onde antes,
Para elas eram todos, ao seu modo, belos, perfeitos, morais e imortais.

Elis Othuanien é o seu rei; patrono da música, exclama a beleza da inspiração;
Seus filhos, são os lordes elfos, os quais tudo podem e herdam, de melhor e pior;


Yrven Anasindel, a arquimaga, dotou seus filhos de aptidão e potencialidade;
Eles são elfos de ouro, tais quais seus cabelos, geniosos e brilhantes como o sol.

Swanor Lorenser, o caçador, silencioso e astuto, foi o primeiro a conhecer Hellios;
Seus filhos, os esmeralda, primeiros a ignorar o luxo e nobreza para conhecer o mundo.

Noraer Narwham, a amazona, deixou sua graça e perícia para seus filhos, elfos rubi,
Todos, admiram sua maestria na perfeita combinação de espada e magia que criou.

Isilion Mistade, primo do rei, quem ficou abaixo na hierarquia, deus aos seus filhos de prata,
O respeito e orgulho, de que soubessem que são tudo que há de mais nobre e belo das fadas.

Aurchien Galenedea, por sua vez, não desejando ficar mais abaixo, deu precisão e firmesa aos seus;
Toque delicado e sutil, seus elfos de bronze de cabelo ocre, são os melhores artífices e criadores.

Gwensal, ou às vezes,  Umthaw Dúrandir, o sábio, estudioso dos povos e do mundo, encontrou.
Os clãs queriam um mundo para conhecer e ele deu o dom da viagem aos seus filhos, elfos ônix.

Maelui Vairantil, a mais bela de todas, a orgulhosa e vaidosa, dona de todos os sortilégios da magia;
A feiticeira, bruxa e sedutora, mecenas da arte dedo que há de mais belo; os filhos são de ametista.

Estes eram os visitantes do outro mundo, que aqui conheceram e decidiram nestas terras ficar.
Nomeram um reino, de nome Tarantir e lá hospedaram todos de sua raça que desejaram.
O mortais tão intrigados com a beleza estoica e exótica, destes a quem chamavam de fadas,
Igualmente, a curiosidade intrigava quão era instigante a imperfeição humana e o que admiravam:
A força enorme da paixão em seus corações; algo que há muito procuravam no seu mundo.

Mas não se engane; na terra das fadas, nem tudo o que se vê é ilusão;
O glamour guarda muitas surpresas e mistérios, nessa terra de aparências,
Onde o que mais há é intriga, palavras veladas, meias-verdades e dissimulação
Na corte feérica e terras adjecentes, onde todo tipo de criatura e traquitana habitam
Caia em suas graças e desfrute seus augúrios; enfureça-os e espere toda sorte de infortúnios

sexta-feira, 29 de abril de 2011

Crônicas da Crisálida



Gosto das nuvens de tempestade,
Mas não necessariamente da chuva;
Ela não me incomoda, mas ao meu bem vestir,
É outra história completamente diferente.

E enquanto aguardo, observo incólume,
O dia chorar desesperado, 
Por há muito ter-nos abandonado,
Sem saber por que, se, no entanto,
Sua hora não havia chegado.


Quieto, assisto o apoteótico espetáculo da fúria dos elementos,
Enquanto combato, imóvel, a mim mesmo,
Em busca de meu eterno reflexo perdido.
E perdido, perdi-me a vaguear pela tempestade, ao som de sua música:

“Kraka-Doom!”

SLASH                  SHRED                  MANGLE


Palavras desconexas, quase onomatopeias,
Que fluem, repetidas num padrão lento, pausado e caótico;
Me lembram o que aconteceu da última vez.

Se fechar os olhos, posso me lembrar da cena com perfeição;
Mas, volto momentaneamente minha atenção para Fumiko,
Avisando-me que o banho quente está pronto.




Deixo o robe cair displicentemente pelos braços,
Enquanto me dirijo à banheira.

Aconchego-me no recosto da peça de mármore fosco,
E permito-me relaxar com o banhar-me,
Que está maravilhoso.

Baixo minhas pálpebras e relaxo...
Imagino os primeiros curiosos invadindo a casa,
Abrindo a porta, eliminando a penumbra existente.





















Abro os olhos e passo a contemplar os meus cabelos...
São tão grandes e lisos, que escorrem negros,
Como a treva mais profunda,
Escondendo parte de minha fronte,
Deixando-a mais soturna.
  
Pouco depois, Fumiko surge detrás de mim
E começa a lavá-los carinhosamente.
O sabão em meus olhos, longe de incomodar,
Turva a visão, lavando a realidade e projetando nova cena:

 
Agora veem a garota.
Sim, é uma garota,
Deitada neste chão imundo e descascado
Pelo tempo e abandono.
Apesar da falta de luminosidade,
É possível distinguir-lhe as feições:

É jovem, donzela ainda.
Seu cabelo louro-castanho
Contrasta bem com seus olhos verdes,
Bem abertos e estáticos,
Demonstrando uma estranha serenidade
E até um esboço de alegria,
Confirmado por um tênue e tímido sorriso no canto
De lábios tristemente escoriados.



Fumiko enxágua meus cabelos,
E me desperta momentaneamente de minhas divagações.
Não sei se por zelo, ou por descuido,
Acabou retirando-os da sua posição de guardiões
De meus pobres olhos sensíveis.

Isso me cega dolorosamente,
Mas, ao mesmo tempo,
Me conduz à próxima cena,
Que é amaldiçoadamente clara:




Flashes insanos,
Murmúrios catárticos,
Lâmpadas estroboscópicas,
Pessoas entrando e saindo,
Janelas sendo arrancadas à força;

“Deus do céu”, “Jesus Cristo”,
Eles dizem, como se seus
Aconceituados e indiferentes deuses
Fizessem algo para mudar o ocorrido.

É possível ver todo o cômodo e seu conteúdo.
Há gotas de sangue seco por todas as direções.
O que restou da indumentária da jovem,
Está espalhada de forma fragmentária e caótica
Pelos arredores do aposento, se misturando a imundície já existente.

Se não fosse o fato dela estar, como eles diziam vulgarmente,
“Em tiras”, ela estaria linda, mesmo morta.


 




Vou até a cama onde estão minhas roupas, 
Já preparadas para vestir.
Um Armani, preto, e a capa, estilo Era Vitoriana.
Está impecável, além de ser uma ótima escolha.
Fumiko está de parabéns.

Me dirijo à porta e digo-lhe para não me esperar para o jantar.
Só então imagino a cena final, onde, finalmente,
No local do crime, legistas, oficiais e curiosos descobrem 
E se perguntam:





“Onde foram parar quatro litros e meio de líquido do corpo da garota?”



* * *
Suspiro


 

Por mais que tente, o filho pródigo sempre retorna...
Mesmo quanto mais desejar ver-te perdido nas Névoas do esquecimento,
Mas as suas grades virão firmes até mim?

Maldito seja, ó ossuário deprimente, 
Com toda a sua gente,
A chorar, deste lado e do outro, hipocritamente.

Parece que estou sempre a tua porta,
A meio caminho da ida e da volta,
Sabendo que, a qualquer dos dois que seja,
Não há volta.

Por enquanto, tenho passe livre,
A ambos os reinos, mas em breve,
Deverei decidir o que quero.

Eu o odeio. Mas, quantas vezes mais lhe direi:
“O visito pela última vez?”

A cada visita, um novo juramento.
E, desta vez, é por ti, só por ti, minha pequena,!
Só mesmo você, para me fazer visitar
Carcomidas cercanias de casas cadavéricas
Por livre e espontânea vontade.



Não fosse o vento frio, o nublar furioso do céu
E a probidade eminente da chuva, é provável que não estivesse aqui...
Mas é uma garota esperta, e sabia que eu viria...

Lembranças amargas vêm à mente.
Elas são o resultado de escolhas desagradáveis.
Quem podia fazer algo a respeito, se gostavas tanto de relações perigosas?

E, uma vez decidida de algo,
Não havia apelo ou retórica capaz de lhe demover de uma decisão.
Por isso, o que aconteceu era inevitável;
Uma questão de tempo.

Como posso, então,
Não me sentir responsável,
Após tudo que aconteceu?

Culpa, arrependimento?
Estou além destes sentimentos mundanos medíocres.
Dor? - nem preciso senti-la, com tantos a tomá-la para si,
Exigindo vingança para corações, que não são os seus, partidos,
E lágrimas, que não são suas, derramadas.




Conheço bem o tipo, que vive a punir sectariamente, 
A seu bel-prazer:
Todos aqueles que não façam parte de seus padrões hipócritas 
De perfeição.
Vêm cobrar a mim o cheiro de morte em minhas mãos,
Sem querer enxergar o quanto de sangue têm nas suas.

Avisto-os agora, mas já sabia de suas presenças há tempos.
Santíssima Trindade, toda de negro e óculos escuros,
São na verdade anjos decaídos, tão demoníacos quanto eu.

“Prepara-te, facínora, que teu reinado de terror está prestes 
A terminar.
Renda-se e prometo ser indolor”.





Dama-demônio, tu dizes:
“Faz deste poso tão teu, tua morada”.

Desarrazoa a razão.
Partam agora e me deixem a sós com minha dor,
Que a mim é suficiente.
Aproveita-te que nada tenho contra ti,
Vai-te embora, e esquecerei que um dia lhe conheci.

Ai, de minha fúria, se recair sobre vós;
Pois vosso sangue se tornará fel
Não mais haverá nada que se possa fazer.

“Não há escapatória - conhecemos tuas fraquezas!”
Grita capo em transe em sua afirmativa.

...

Canta, brisa, canta, pois ninguém tem mais nada a dizer...
Sê a juíza de nossa justa e testemunha...

...


...

...
TapTapTapTapTapTapTapTapTapTapTapTapTapTapTap

SLASH!!!

TapTapTapTapTapTapTapTapTapTapTapTapTapTapTap

SHRED!!!

TapTapTapTapTapTapTapTapTapTapTapTapTapTapTap

MANGLE!!!


Acabou, minha pequena...

Acabo caindo sentado sobre a terra molhada,
Com as mãos apoiadas nos joelhos.
Permito-me uma risada cansada,
Mais por esforço do pulmão que qualquer outro motivo.

As flores de cerejeira que lhe presenteei ainda estão aqui, intocadas.
Beijo a ponta de meus dedos, ainda de luvas,
Transmito o meu ósculo sob a forma de carícia
Neste seu único objeto que sobrou para lhe representar.
Essa foi a despedida, adeus.

E mesmo que os deuses em que acredite não seja mesmo como os seus, AMÉM.